quarta-feira, 17 de abril de 2013

Bafatá Filme Clube, de Silas Tiny - Crítica por Aisha Rahim

Bafatá Filme Clube, de Silas Tiny 
Crítica por Aisha Rahim

Estreado o ano passado no Festival Caminhos do Cinema Português e em competição na última edição do Festin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, Bafatá Filme Clube é a primeira longa-metragem do são-tomense Silas Tiny. Foi filmada na cidade de Bafatá, Guiné-Bissau, mais conhecida como o berço de Amílcar Cabral, homem que conduziu aquele país à independência e cuja visão de libertação incluiu a fundação do cinema guineense – ao ter enviado quatro jovens ligados ao PAIGC (José Columba, Josefina Crato, Flora Gomes e Sana Na N’Hada) para Cuba para receberem formação no Instituto de Cinema. Não será por acaso que Tiny escolheu o antigo cinema de Bafatá como porta de entrada para o actual quotidiano da cidade. Entre as ruínas de hoje é difícil imaginar os mais de quinhentos sócios, entre eles muitos “tropas brancos”, que em tempos frequentaram o estabelecimento. Canjajá, projeccionista há cinquenta anos – o cinema já não existe, mas ele conserva o zelo pelo espaço –, figura esguia, boubou branco, vulto quase fantasmático, é o anfitrião silencioso desta visita a Bafatá vista como sítio arqueológico, onde todos os sinais de vida pertencem ao passado. É uma terra deixada ao deus dará e não são só os habitantes, entrevistados particularmente felizes quando postos a dialogar entre si (e a fazer, portanto, também de entrevistadores) a dizê-lo. Sublinham-no-lo também a quase inexistência de planos de movimento, a cadência pouco estridente da montagem. Ainda assim, e aí reside a subtileza desta primeira obra, não há espaço para discursos derrotistas. Basta olhar para o brilho das paisagens áridas captadas pela fotografia da portuguesa Marta Pessoa (Lisboa Domiciliária; Quem Vai à Guerra). Fazem-nos chegar o cheiro a terra vermelha da costa ocidental africana, virgem mas não árida, receptiva a novas lembranças. Enquanto objecto cinéfilo, consciente da sétima arte como sinónimo de vida e criação da memória de um povo, Bafatá Filme Clube, co-produção lusoguineense, é uma terna ajuda. 
Aisha Rahim

1 comentário:

  1. Um filme espantoso, concordo!
    Fiquei sem palavras.
    Silas Tiny parece-me um cineasta de futuro

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