Bafatá Filme Clube, de Silas Tiny
Crítica por Aisha Rahim
Estreado o ano passado no
Festival Caminhos do Cinema
Português e em competição na
última edição do Festin – Festival
de Cinema Itinerante da Língua
Portuguesa, Bafatá Filme Clube é
a primeira longa-metragem do são-tomense
Silas Tiny. Foi filmada na
cidade de Bafatá, Guiné-Bissau,
mais conhecida como o berço de
Amílcar Cabral, homem que
conduziu aquele país à
independência e cuja visão de
libertação incluiu a fundação do
cinema guineense – ao ter enviado
quatro jovens ligados ao PAIGC
(José Columba, Josefina Crato,
Flora Gomes e Sana Na N’Hada)
para Cuba para receberem
formação no Instituto de Cinema.
Não será por acaso que Tiny
escolheu o antigo cinema de
Bafatá como porta de entrada para
o actual quotidiano da cidade.
Entre as ruínas de hoje é difícil
imaginar os mais de quinhentos
sócios, entre eles muitos “tropas
brancos”, que em tempos
frequentaram o estabelecimento.
Canjajá, projeccionista há
cinquenta anos – o cinema já não
existe, mas ele conserva o zelo
pelo espaço –, figura esguia,
boubou branco, vulto quase
fantasmático, é o anfitrião
silencioso desta visita a Bafatá
vista como sítio arqueológico, onde
todos os sinais de vida pertencem
ao passado. É uma terra deixada
ao deus dará e não são só os
habitantes, entrevistados
particularmente felizes quando
postos a dialogar entre si (e a
fazer, portanto, também de
entrevistadores) a dizê-lo.
Sublinham-no-lo também a quase
inexistência de planos de
movimento, a cadência pouco
estridente da montagem. Ainda
assim, e aí reside a subtileza desta
primeira obra, não há espaço para
discursos derrotistas. Basta olhar para o brilho das paisagens áridas
captadas pela fotografia da
portuguesa Marta Pessoa (Lisboa
Domiciliária; Quem Vai à
Guerra). Fazem-nos chegar o
cheiro a terra vermelha da costa
ocidental africana, virgem mas não
árida, receptiva a novas
lembranças. Enquanto objecto
cinéfilo, consciente da sétima arte
como sinónimo de vida e criação
da memória de um povo, Bafatá
Filme Clube, co-produção lusoguineense,
é uma terna ajuda.
Aisha Rahim
Um filme espantoso, concordo!
ResponderEliminarFiquei sem palavras.
Silas Tiny parece-me um cineasta de futuro